Mas qual será o sinal da Sua vinda, para que alguma potestade contrária não se atreva a imitá-Lo? “Então —diz— aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (Mt 24,30). Ora, o sinal verdadeiro e próprio de Cristo é a cruz. O sinal de uma cruz luminosa precederá o Rei, mostrando Aquele que anteriormente foi crucificado, para que, vendo-O, aqueles que O atormentaram e os judeus que O perseguiram com suas insídias se lamentem uns com os outros (cf. Zac 12,10.12), dizendo: “Este é Aquele que foi esbofeteado, aquele em cujo rosto se cuspiu e a quem se acorrentou, Aquele que foi desprezado ao ser crucificado.” Dirão: “Para onde fugiremos da face da tua cólera?” Mas, cercados pelos exércitos angélicos, nunca poderão escapar.
O sinal da cruz será o terror dos inimigos. Mas será a alegria dos amigos, que creram nela, a anunciaram ou padeceram por ela. Quem terá a dita de ser contado entre os amigos de Cristo naquele dia? Um Rei tão glorioso, acompanhado por uma corte de anjos e sentado em trono junto ao Pai, não desprezará os Seus próprios servos. E para que os eleitos não sejam confundidos com os inimigos, “enviará os seus anjos com sonora trombeta, e reunirão os seus eleitos dos quatro ventos” (Mt 24,31). Se Ele não abandonou a Ló, que era apenas um, como abandonará tantos justos? “Vinde, benditos de meu Pai” (Mt 25,34), dirá àqueles que então serão transportados em carros de nuvens e reunidos pelos anjos.
Será uma libertação que não deixará ninguém para trás
Mas alguém poderia dizer: “Não estarei preparado” ou talvez “Naquele tempo estarei doente no leito” ou ainda “Sendo mulher, serei colhida na cama.” “Seremos, pois, rejeitados?” (alusão a Lc 17,34-35). Tem confiança, pois o Juiz não faz acepção de pessoas. Ele não julgará segundo a glória humana e “não julgará pelas aparências” (Is 11,3). Não preferirá os instruídos aos simples, nem os ricos aos pobres. Mesmo que estejas no campo (cf. Mt 24,40), os anjos te tomarão. Não penses que acolherá os donos das terras e deixará a ti, que és lavrador. Mesmo que sejas servo ou pobre, não te preocupes. Aquele que “tomou a condição de servo” (Fl 2,7) não desprezará os servos.
Ainda que estejas doente no leito, está escrito: “Estarão dois num mesmo leito: um será tomado e o outro deixado” (Lc 17,34). Mesmo que, forçado pela necessidade, te encontres prostrado em cama — seja homem ou mulher —, e mesmo que tenhas filhos ou estejas junto à mó (cf. Lc 17,35), não passará ao largo de ti Aquele que “liberta os cativos e abre para eles a porta da felicidade” (cf. Sl 68,7). Aquele que levou José da servidão e da prisão ao reino, também te conduzirá a ti, resgatado das tuas aflições, ao Reino dos Céus. Basta que confies, que ajas e que combatas com ardor. Nada terá sido em vão para ti.
Tua oração foi considerada, teus salmos recitados, tuas esmolas, teus jejuns, a pureza e castidade no amor conjugal, ou a continência assumida por amor de Deus. No juízo, terão primazia a virgindade e a integridade, e quem as possuir resplandecerá como anjo.
Mas, da mesma forma que ouviste com alegria as promessas, escuta também com paciência o que é contrário. Pois também serão levadas em conta tuas rapinas e tua vida libertina. Serão anotados o perjúrio, a blasfêmia, o uso de feitiços, o furto, o homicídio. Todas essas coisas te serão cobradas se as cometeres novamente após o batismo. Porque as que se cometeram antes dele, são apagadas.
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